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Contexto: A empresa em questão, apesar de seu porte e relevância no mercado, enfrentava um cenário de estagnação organizacional. Com mais de 200 colaboradores distribuídos em diversas áreas, a organização operava de maneira fragmentada, com departamentos isolados (silos) e uma cultura fortemente enraizada em práticas tradicionais. A liderança, ciente da necessidade de mudança para se manter competitiva, decidiu adotar metodologias ágeis, mas o desafio de implementar essas mudanças em um ambiente resistente não seria simples.

Os Primeiros Dias: A jornada de transformação começou antes mesmo do primeiro dia oficial, quando as primeiras interações destacaram uma desconexão entre as expectativas e a realidade organizacional. Ao chegar, deparei-me com uma série de obstáculos logísticos e culturais que exemplificavam a resistência à mudança. A falta de equipamentos adequados para o trabalho remoto, como um computador e uma mochila, era apenas um sintoma de um problema maior: a empresa ainda estava presa a uma mentalidade ultrapassada, não preparada para as demandas de um ambiente de trabalho moderno e ágil.

Onboarding e Primeiras Impressões: O processo de onboarding revelou a complexidade do ambiente. A empresa possuía uma estrutura organizacional que, embora grande, operava sem uma visão clara e compartilhada de objetivos. Os líderes de equipe e departamentos estavam acostumados a trabalhar de forma independente, sem a integração necessária para uma abordagem ágil. Essa fragmentação era evidente nos primeiros contatos, onde a falta de comunicação entre as áreas se mostrava um dos principais desafios a serem superados.

Desafios Identificados:

  1. Resistência à Mudança:
    • Cultura Organizacional: A cultura da empresa estava profundamente enraizada em processos tradicionais e burocráticos. A resistência à mudança não era apenas uma questão de preferências pessoais, mas um reflexo de anos de práticas corporativas que privilegiavam a estabilidade sobre a inovação. A implementação de metodologias ágeis, que requerem flexibilidade e uma disposição para experimentar e falhar, foi recebida com ceticismo.
    • Experiências Passadas: A empresa já havia passado por várias tentativas de mudança, todas sem sucesso. Isso criou um ambiente de desconfiança, onde os colaboradores estavam desmotivados e cínicos em relação a qualquer nova iniciativa. Muitos acreditavam que a agilidade era apenas mais uma moda passageira que não traria resultados duradouros.
  2. Falta de Clareza nos Papéis e Responsabilidades:
    • Confusão Generalizada: A empresa não tinha uma definição clara de papéis e responsabilidades. Isso gerava confusão e frustração, pois os colaboradores não sabiam ao certo o que era esperado deles. Essa falta de clareza resultava em duplicação de esforços, atrasos frequentes e entregas de baixa qualidade.
    • Impacto na Motivação: A indefinição de papéis também afetava a moral da equipe. Sem uma visão clara de como poderiam contribuir para o sucesso do projeto, muitos colaboradores se sentiam desmotivados e desconectados do trabalho.
  3. Silos e Comunicação Fragmentada:
    • Trabalho Isolado: As equipes trabalhavam de maneira isolada, cada uma concentrada em suas próprias tarefas, sem compartilhar informações ou colaborar com outras áreas. Isso criou uma situação em que cada departamento funcionava como uma “ilha”, sem conexão com o todo.
    • Lead Time Excessivo: O tempo de entrega dos projetos, conhecido como lead time, era extremamente longo – em muitos casos, chegando a 90 dias. Esse atraso se devia, em parte, à falta de comunicação entre as equipes e à ausência de uma visão integrada do trabalho.
  4. Desmotivação e Falta de Engajamento:
    • Ausência de Plano de Carreira: Muitos colaboradores sentiam que não havia um caminho claro para o crescimento dentro da empresa. Isso, combinado com a falta de feedback e reconhecimento, levou a uma desmotivação generalizada.
    • Ceticismo em Relação à Agilidade: A agilidade era vista com desconfiança. Para muitos, era apenas uma nova palavra para práticas antigas que não haviam funcionado no passado. Isso resultava em uma falta de engajamento nas cerimônias ágeis, como as dailies e retrospectivas, que eram realizadas de forma mecânica, sem a reflexão necessária para gerar melhorias.

Iniciativas Tomadas:

  1. Primeiras Intervenções:
    • Interação com as Equipes: Nos primeiros dias, meu foco foi entender as dinâmicas de equipe e os processos internos. Participei das dailies, tentando incentivar discussões mais produtivas e promover uma mentalidade de melhoria contínua. No entanto, a falta de planejamento e a natureza “status report” dessas reuniões tornaram essa tarefa difícil. Era evidente que a cultura precisava de uma reeducação sobre o que significa agilidade.
    • Identificação de Aliados: Comecei a identificar pessoas-chave dentro da organização que poderiam ser aliadas na jornada de transformação. Realizei reuniões com Product Managers, Tech Leaders e desenvolvedores para entender suas perspectivas e obter apoio para as mudanças propostas. Foi essencial criar uma base de suporte para as ideias ágeis que estavam por vir.
  2. Propostas Ágeis:
    • Implementação de WIP: Uma das primeiras propostas foi a adoção de WIP (Work in Progress) para controlar melhor o fluxo de trabalho. O objetivo era reduzir o número de tarefas em andamento simultaneamente para melhorar o foco e a qualidade das entregas. No entanto, essa proposta enfrentou resistência, pois muitos colaboradores estavam acostumados a gerenciar várias tarefas ao mesmo tempo, sem priorização clara.
    • Redução do Lead Time: Trabalhei com as equipes para identificar os gargalos que causavam atrasos nos projetos e propus ações para reduzir o lead time. Isso incluiu a reestruturação das cerimônias ágeis e a implementação de check-ins regulares para garantir que os projetos estivessem no caminho certo.
    • Melhoria da Comunicação Visual: Propus a utilização de quadros Kanban físicos e digitais para melhorar a visibilidade do progresso dos projetos e facilitar a comunicação entre as equipes. A ideia era que todos tivessem uma visão clara do que estava acontecendo, o que ajudaria a alinhar expectativas e reduzir mal-entendidos.
  3. Construção de uma Cultura de Feedback:
    • Feedback Contínuo: Um dos pilares da agilidade é o feedback contínuo. Comecei a incentivar a prática de dar e receber feedback de forma construtiva e regular. Isso não apenas ajudou a melhorar os processos, mas também começou a quebrar a resistência à mudança, à medida que as pessoas começaram a ver os benefícios de ajustes rápidos e iterativos.
    • Reconhecimento de Pequenas Vitórias: Para manter a motivação alta, comecei a reconhecer publicamente as pequenas vitórias das equipes. Isso ajudou a criar um senso de progresso e a reforçar a ideia de que a transformação ágil era possível, mesmo que os resultados maiores ainda estivessem distantes.
  4. Reforço da Importância das Cerimônias Ágeis:
    • Dailies Mais Engajadas: Trabalhei com os líderes de equipe para reformular as dailies, transformando-as de simples relatórios de status em reuniões mais interativas, onde problemas reais eram discutidos e soluções eram buscadas coletivamente.
    • Retrospectivas Significativas: Esforcei-me para tornar as retrospectivas mais significativas, focando em identificar e resolver problemas reais em vez de apenas cumprir uma formalidade. Isso envolveu a criação de um ambiente seguro onde as pessoas se sentiam à vontade para expressar suas preocupações e sugestões.

Resultados e Reflexões: Após 100 dias, as mudanças ainda estavam em fase inicial, mas as sementes para uma transformação ágil haviam sido plantadas. O progresso foi lento, mas começava a aparecer uma mudança de mentalidade em algumas áreas-chave:

Conclusão: Este estudo de caso destaca a complexidade de implementar mudanças ágeis em um ambiente resistente. Os primeiros 100 dias foram uma fase crucial para identificar barreiras e aliados, ajustar expectativas e começar a moldar uma nova cultura organizacional. A experiência reforça a importância de uma liderança paciente e estratégica, capaz de engajar todos os níveis da organização.

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