Quando comecei a trabalhar na empresa, imaginava a jornada, mas eu não fazia ideia do que estava prestes a acontecer. Era um ótimo oportunidade, a empresa era amplamente reconhecida como a nata do ágil no Brasil, um verdadeiro ícone no mundo da agilidade.
Com um ambiente de trabalho repleto de pessoas que palestravam em grandes eventos e que eram respeitadas em toda a comunidade ágil, as expectativas eram naturalmente altas. No entanto, eu me encontrava em uma posição peculiar, pois, apesar de todo esse reconhecimento, eu não conhecia bem a comunidade ágil e tampouco estava familiarizado com os grandes eventos que essas pessoas lideravam.
Logo nos primeiros dias, comecei a perceber que o ambiente de trabalho era muito diferente de tudo o que já havia experimentado em minha carreira. Havia uma estrutura complexa de regras e técnicas que sempre estudei mas nunca tinha presenciado.
Com o passar do tempo, descobri que as pessoas ao meu redor eram realmente reconhecidas pela comunidade ágil, e essa descoberta aumentou ainda mais minha sensação de estar em um lugar onde iria aprender muito.
No entanto, o que deveria ser uma experiência enriquecedora e inspiradora, logo se transformou em um desafio imenso.
As regras e técnicas que faziam parte do dia a dia da empresa eram “em teoria” fascinantes.
Eram conceitos que, quando apresentados em eventos e palestras, brilhavam como verdadeiros modelos de eficiência e inovação.
No entanto, quando eu tentava ler e aprender mais sobre essas técnicas, ficava cada vez mais confuso.
A realidade prática parecia se distanciar da teoria que eu estava tentando absorver. Isso começou a impactar minha motivação de maneira significativa.
A dificuldade em entender e aplicar as técnicas estabelecidas na empresa levou a uma série de consequências negativas.
Minha motivação começou a despencar, e, juntamente com ela, meu crescimento de conhecimento foi severamente prejudicado. Eu me via cada vez mais atolado em um mar de métricas que eu pouco entendia, e, para piorar, observava práticas dentro do time que pareciam falsas e sem sentido.
O ambiente, que deveria ser de colaboração e aprendizado, se transformou em um lugar onde eu me sentia isolado, sem saber como agir diante das situações que se apresentavam.
Essa combinação de fatores culminou em algo que muitos profissionais já experimentaram em algum momento de suas carreiras: a síndrome do impostor.
Eu me via constantemente questionando minhas habilidades e conhecimentos, me perguntando se eu realmente tinha o que era necessário para estar ali.
Essa sensação era intensificada pela estrutura caótica que dominava o ambiente de trabalho. Haviam acordos explícitos do times, mas, na prática parecia que ninguém a respeitava.
O time era dividido entre funcionários e terceiros, havia tratamentos diferenciado entre cada grupo e gerava um racha significativo entre as pessoas.
Além disso, a organização das tarefas era confusa e ineficaz, com três locais diferentes que deveriam ser atualizados: post-its na parede, uma planilha de Excel que fornecia diversos indicadores e um Jira que ninguém consultava. Esse caos organizacional só aumentava minha sensação de inadequação.
Em um determinado momento, um gerente da consultoria na qual na qual eu trabalhava foi designado para me ajudar. No entanto, apesar de suas boas intenções, ele não conseguiu me fornecer o suporte necessário para superar as dificuldades que eu estava enfrentando. Suas tentativas de ajuda, na verdade, apenas aumentaram minha frustração, pois eu sentia que ele não compreendia a profundidade dos desafios que eu estava vivenciando.
A situação chegou a um ponto em que decidi pedir para ser retirado do projeto. Eu sabia que não estava indo bem ali e, para minha sorte, a consultoria entendeu minha posição e me transferiu para outro projeto, em vez de me demitir. Esse ato de compreensão por parte da consultoria foi algo pelo qual sempre serei grato, pois eu era novo na empresa e essa transferência foi crucial para o meu futuro profissional.
Antes de deixar o projeto, participei de uma retrospectiva conduzida pelo head de agilidade.
O time tinha problemas de comunicação, confiança e um racha entre funcionários e terceiros. Mas a retrospectiva foi conduzida para ver outras coisas. Em vez de discutir as questões de pessoas, que eram as mais críticas, a retrospectiva foi usada apenas para formalizar acordos sobre a verificação das colunas do Kanban.
Para mim, ficou evidente que aquela retrospectiva não passava de uma formalidade, uma oportunidade para o time dizer o que o líder queria ouvir e encerrar logo a reunião.
Essa experiência me deixou profundamente frustrado. Percebi que as práticas que eram apresentadas com tanto brilho e glamour nos PPTs de eventos não refletiam, de fato, a realidade do dia a dia.
Ao final dessa experiência, saí da empresa com a sensação de que a agilidade estava sendo deixada de lado. O time executava tarefas que não geravam valor real, e as sessões de criação de OKRs pareciam falsas e pouco produtivas. As sessões, que eram propostas pelo chapter de agilidade, tinham uma abordagem “divertida”, mas no fundo produziam muito pouco valor.
Esse contraste entre a teoria apresentada nos eventos e a prática dentro da empresa foi uma das maiores decepções que já enfrentei na minha carreira.
No entanto, apesar de todos os desafios e frustrações, essa experiência teve um impacto positivo significativo em minha vida. Ela me abriu os olhos para a necessidade de ser diferente e pensar de maneira crítica sobre as práticas ágeis.
Era uma fase da minha vida em que eu estava me descobrindo como profissional e pessoal.
Essa experiência foi crucial nesse processo de autodescoberta. Aprendi a olhar de maneira diferente para a forma como trabalhamos com times e projetos, compreendendo que, mesmo nos melhores ambientes, com as melhores intenções e a mentalidade certa, a perfeição não existe. Essa realidade me motivou a estudar mais, a explorar diferentes abordagens e a entender que existem diversas formas de trabalhar e alcançar resultados.
Essa experiência também me ensinou a ser mais cético em relação às práticas que são apresentadas como soluções definitivas. Aprendi que a realidade do dia a dia é muito mais complexa do que o que é mostrado em apresentações e eventos. Isso me fez valorizar a importância de adaptar as práticas à realidade do time e do projeto, em vez de tentar forçar a aplicação de conceitos que podem não ser adequados para a situação específica.
Em resumo, essa jornada foi marcada por desafios, frustrações e, acima de tudo, aprendizado. O que poderia ter sido uma experiência negativa se transformou em uma oportunidade de crescimento e amadurecimento profissional.
Hoje, olho para trás com gratidão, sabendo que essa fase me preparou para enfrentar os desafios futuros com uma mentalidade mais aberta e flexível. A agilidade, que um dia pareceu distante e confusa, se tornou uma aliada na busca por eficiência e valor nos projetos que lidero. E, mais importante, aprendi que a perfeição não está nas regras e técnicas, mas na capacidade de adaptação, aprendizado contínuo e valorização das pessoas.
Hoje posso falar que realizo mentoria para as pessoas. Pode me chamar para conversamos e dividirmos nossas experiências.
Não imaginava criar uma Youtube gerando valor para as pessoas e nem um Instagram e muito menos um tiktok.